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PALAVRAS27

Soneto

Estende o manto, estende, ó noite escura, 
enluta de horror feio o alegre prado; 
molda-o bem c’o pesar dum desgraçado, 
a quem as feições lembram da ventura. 

Nubla as estrelas, céu, que esta amargura 
em que se agora ceva o meu cuidado, 
gostará de ver tudo assim trajado 
da negra cor da minha desventura. 

Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares, 
rebente o mar em vão n’ocos rochedos, 
solte-se o céu em grossas lanças de água. 

Consolar-me só podem já pesares; 
quero nutrir-me de arriscados medos, 
quero saciar de mágoa a minha mágoa! 

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