Palavras

Diogo Dória diz Mário Cesariny, Rui Cinatti, Ricardo Reis e Carlos de Oliveira. João Fiadeiro revisita a sua criação “I am sitting in a room different from the one you are in now”.

Isaque Ferreira diz Bocage e João Habitualmente. Manuel João Vieira interpreta dois temas de sua autoria e improvisa um poema.

Cirilia Bossuet diz Alda Lara e Gisela Casimiro. Wavovádio Gomes e Luísa Bossuet dançam “Rebita” de Banda Maravilha e “O Anel” de Dina Santos.

Luca Argel lê Carlos Drummond de Andrade e Luca Argel. Ana Deus lê Ana Farrah Baunilha e Regina Guimarães. Ambos interpretam um tema da sua autoria, “Barrow on Furness”, com poema de Fernando Pessoa.

Nuno Moura lê Alexandre O’Neill e Mário Cesariny e Nuno Moura. Carlos Zíngaro toca duas peças de sua autoria, “Figura” e “Saída”.

Paulo Campos dos Reis diz poemas de António Ramos Rosa. Francisco Camacho dança a partir de “O Aprendiz Secreto” de Ramos Rosa numa criação original.

Pedro Lamares, ator e diseur, junta-se ao músico Andrés “Pancho” Tarabbia, numa criação original sobre os poemas e inspiração do incontornável poeta Herberto Helder.

Teresa Coutinho diz poemas de David Mourão-Ferreira e de Raquel Nobre Guerra. Noiserv interpreta dois temas de sua autoria, «Dezoito» e «Vinte e Três».

Beatriz Batarda diz poemas de Natália Correia e Filipa Leal. Vera Mantero dança sobre material sonoro em torno de Natália Correia numa criação original.

Poema da Semana

Os Navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
Partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram-se nas esquinas.
Amo-te… E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade in As Palavras Interditas

Palavras

para o século XXI

Texto de Gonçalo M Tavares e ilustração de Rachel Caiano