Não sei se o mar tem voz
Mas a sua voz
Desde pequeno me falava lento.
E eu via nele
O que não existia na memória.
Ninguém sabia
De meus avós e bisavós
Se era quadrado ou redondo
Se tinha vida ou não.
Mas sem saber se tinha voz o mar
Ouvia a sua voz.
E sem saber se tinha vida ou não
Sentia a sua vida.
Foi ele que me disse
Que havia Espaço e Tempo.
E comecei a viajar sem medo da viagem.
E nunca mais parei
Com medo da paragem.
Fernando Sylvan, in “7 Poemas de Timor”