Sopra o sonho por dentro
Das pálpebras em viagem
Enceta o curso habitual nocturno
Num corredor sombrio de pestanas
Antes porém cumprimenta
Toda a matéria viva em que tropeça
Sabe o segredo do corpo tem uma pátria
Bioquímica extremamente embrionária
A morte já habita os seus tecidos
Quando os outros de guarda se abastecem
Pronta ao assalto das células
Como se dormisse
A que fins se destina e a que estranhos
bulícios suas últimas vontades?
Não o sabemos
Só mesmo o oceano o incomoda
Zeca Afonso, in “Textos e Canções”